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Destaque brasileiro da esgrima, Bia Bulcão aponta Programa Touché como exemplo de inclusão

05/08/2019

Bia Bulcão, uma das poucas esgrimistas negras da elite mundial e integrante do time brasileiro que compete nos Jogos Pan-Americanos, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, apontou o Programa do Touché como exemplo de inclusão de jovens atletas em esportes de elite.

O Programa Touché é coordenado pelo Sindi Clube em parceria com a Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo, e envolve o Club Athletico Paulistano, o Esporte Clube Pinheiros e a Associação Brasileira A Hebraica de São Paulo, que são agremiações referência em esgrima. Esses clubes, fornecem equipamentos e instrutores para mais de 40 estudantes de 9 a 14 anos da rede pública de ensino, que frequentam as aulas no Centro Educacional e Esportivo Edson Arantes do Nascimento, o Pelezão, na Lapa, em São Paulo.

Leia abaixo a íntegra da entrevista de Bia Bulcão.

(Foto: reprodução/Facebook)

Rara esgrimista negra pede mais diversidade na elite do esporte

Daniel E. Castro

FSP, 4 ago 2019

Ana Beatriz Bulcão, 25, ainda tem muitos objetivos a cumprir na esgrima. O mais imediato é uma medalha nos Jogos Pan-Americanos de Lima. Na sequência, a vaga olímpica em Tóquio-2020. Outro dos seus desejos é para o futuro e não inclui somente ela.

Uma das poucas esgrimistas negras na elite mundial, a paulistana pretende que o esporte se torne mais diverso e inclusivo nos próximos anos. “No Brasil, que tem a maioria de sua população negra, seria importante ter mais esgrimistas negros. Eu vejo isso como uma barreira e tento representar a raça negra da melhor forma possível”, afirma à Folha.

A atleta diz nunca ter sofrido preconceito racial numa situação “de pista” [onde são disputados os combates], mas em outras ocasiões sim, inclusive no meio esportivo. Por experiência própria, sabe que pode acontecer em qualquer lugar. “É difícil, mas a gente nasce sabendo lutar todo dia”, afirma.

Como exemplos de ações que podem ajudar a mudar a imagem de esporte de elite, a atleta cita dois projetos sociais em São Paulo: Programa Touché Escola Pública de Esgrima e Mosqueteiros de Paraisópolis.

Bia também pretende um dia ter o seu projeto para difundir no país a modalidade que começou a praticar aos 9 anos, quando experimentou e gostou da atividade no Esporte Clube Pinheiros.

Já o seu primeiro combate na vida foi bem antes disso. Adotada aos 5 meses de idade, tinha grau elevado de subnutrição e precisou ser submetida a um tratamento que durou quase dois anos.

Fortalecida, ela conseguiu se destacar cedo na esgrima e foi a primeira brasileira a estar entre as seis melhores do mundo no ranking mundial. Integrante da seleção nacional desde 2010, está em seu terceiro Pan (2011, 2015 e 2019) e participou da Olimpíada do Rio-2016.

O evento em Lima não conta pontos na classificação olímpica, mas para Bia a conquista da medalha, além de ser algo inédito, ajudaria a conseguir uma projeção necessária a quem passa boa parte do ano competindo e treinando na Europa.

“A medalha no Pan dá confiança e mostra o nível em que você está na comparação com atletas da América. E num esporte como a esgrima, que no Brasil não é muito popular e não tem muito incentivo, gera mais visibilidade”, diz.

Atualmente, ela recebe a bolsa atleta do governo federal e integra o programa de alto rendimento do Exército, além de defender o Pinheiros. Mas essas fontes nem sempre são o bastante para se manter em alto nível mundialmente.

Por isso, tenta emplacar uma vaquinha virtual em seu site, mas o apoio ainda não rendeu muito: cerca de R$ 180 mensais.

Sobrinha-neta do artista plástico Athos Bulcão (1918-2008), a esgrimista tem sua veia artística e cultural na música (toca piano e guitarra), nos idiomas (fala inglês, francês e italiano, além de arranhar o russo) e no próprio esporte.

“Desde pequena acompanhei o trabalho do meu tio, acho as obras dele incríveis, mas não sou uma pessoa de pintar. Minha forma artística está na pista, a esgrima é um esporte de movimentos muito plásticos, são como uma dança. Você tem que ser criativa na pista em todo momento”, afirma.

Bia Bulcão compete no florete (uma das três armas da esgrima) individual nesta segunda-feira (5), a partir das 12h40 (de Brasília).

O Brasil está com 16 atletas da esgrima em Lima. Além de Bia, Guilherme Toldo, Henrique Marques, Heitor Shimbom, Gabriela Cecchini, Mariana Pistoia disputam na categoria florete. No sabre estão Bruno Pekelman, Enzo Bergamo e Henrique Garrigós. Já na espada, Nathalie Moellhausen, Amanda Simeão, Victória Vizeu, Alexandre Camargo, Athos Schwantes, Nicolas Ferreira foram aos Jogos.

Da equipe, Nathalie é quem teve o melhor histórico e desempenho no ano. Ela compete na quarta-feira (7).

Nascida em Milão, defendeu a Itália —uma das principais potências do esporte— durante a maior parte da carreira, mas compete pelo Brasil desde 2014 e no último mês tornou-se a primeira campeã mundial de esgrima do país.

A esgrimista tem cidadania brasileira por causa de sua família materna. A avó imigrou da Itália e se estabeleceu no Brasil. Filha da estilista ítalo-brasileira Valeria Ferlini, ela carrega o sobrenome paterno, de origem alemã, nas competições.

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