O solo precisa de Água - Dr. José Renato Nalini
18/09/2024O Sindi Clubes reafirma seu compromisso com a sustentabilidade, apoiando todas as iniciativas que buscam melhor equilíbrio entre o ser humano e o meio ambiente. Em sua recente palestra em nossa sede, o Dr. José Renato Nalini trouxe uma reflexão crucial, confira o texto a seguir:
A natureza é sábia. Tudo está previsto. O solo é composto por terra, precioso elemento do qual extraímos nossa alimentação. Para que os vegetais se desenvolvam, a terra precisa de água. E esta fonte de vida é um bem finito. Não se consegue “produzir” mais água do que o nosso planeta possui.
Enquanto isso, o ser humano às vezes erra. Equivoca-se quando substitui a terra por excesso de cimento ou asfalto. É preciso que haja equilíbrio, para permitir que a água da chuva seja absorvida pela terra e mantenha hígidos os lençóis freáticos. São aquelas faixas de água subterrânea que garantem o abastecimento, nutram as árvores e estas, pelo fenômeno da ecotranspiração, devolvam o líquido através das chuvas.
Uma cidade como São Paulo pecou pelo exagero na impermeabilização. Aos poucos, a superfície de terra foi cedendo espaço a áreas que não absorvem água da chuva. Com isso, quando há precipitações pluviométricas, elas engrossam, à medida em que não encontram solo drenável. Daí as enxurradas, as correntezas, as enchentes e inundações, os deslizamentos de terra.
Não é uma condenação definitiva. Assim como o ser humano se equivocou, ele pode desfazer o equívoco. De que maneira? Fabricando os “jardins de chuva”. Espaços em que a permeabilização é devolvida. Basta uma pequena superfície da qual se arranque cimento, concreto ou petróleo e se plante algo vivo. Árvore, de preferência, arbusto, folhagem. Assim, quando chover, a água pode se infiltrar e reabastecer o lençol freático.
Algo muito simples. Para ser melhor, precisaríamos de “vagas verdes”. Edificamos uma cidade para o automóvel. Por que não subtrair do estacionamento viário, do leito das ruas, um espaço e devolvê-lo ao ambiente? Seria mais verde, mais temperatura amena, mais possibilidade de escoamento de água e embelezamento da cidade.
É mister que toda a população reconheça a urgência de se devolver à natureza aquilo que os séculos vêm subtraindo dela. É uma questão de saúde e de sobrevivência. Propague a ideia dos “jardins de chuva”, das “vagas verdes”, até que possamos contar, também, com “florestas urbanas”. A cidade será mais resiliente e mais amiga da vida. Nada impossível, quando se compreende a gravidade das emergências climáticas.
- Dr. José Renato Nalini, Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.